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terça-feira, 18 de março de 2014

UMA HISTÓRIA DO PARTEJAR


 Triste no Estado da Bahia
                   Mulher pena por atendimento e dá a luz na porta do Clériston Andrade


                             No início da tarde desta terça-feira (18), a dona de casa Maristela Barros, 32 anos, residente no bairro da Cidade Nova, em Feira de Santana, entrou em trabalho de parto na porta do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), após tentar ser atendida no Hospital da Mulher e na Mater Dei.

                             O marido dela, nervoso com o descaso dos funcionários, e com a ajuda de uma amiga, começaram a pedir socorro, mas ninguém do HGCA se comoveu.


                             Os dois chegaram ao hospital no final da manhã e não foram atendidos. Maristela se queixava muito das dores de parto, ficando por várias horas em cadeiras de rodas e terminou dando a luz no chão, na entrada das ambulâncias.
 
                             Alguns pacientes e acompanhantes correram para ajudar a mulher que entrava em trabalho de parto, enquanto outras pessoas tentavam chamar médicos e enfermeiros para atender a dona de casa. Somente depois de dar à luz no chão, a mulher finalmente foi levada para o interior da unidade de saúde em meio à confusão formada no local.

De acordo com informações, o bebê recebeu o nome de Alice, “ mas não nasceu no país das maravilhas “, comentou o apresentador do programa Ronda Policial, Lucival Lopes.
O hospital divulgou uma nota de esclarecimento sobre o episódio:
Nota de Esclarecimento

                              O Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) informa, em relação à ocorrência registrada nesta unidade hospitalar em 18.09.2012, que as duas obstetras de plantão apresentaram atestado médico e a unidade estava providenciando substituição, ao receber a referida paciente a unidade orientou a procurar outra unidade de saúde, visto que sua gestação era de baixo risco e poderia ser atendida nos hospitais de referência para tal procedimento.
Sobre o atendimento emergencial, a paciente evoluiu rapidamente para trabalho de parto, sendo tomados, pela unidade, todos os procedimentos possíveis para garantir o atendimento à gestante, que já teve filho. Ambos passam bem.
Salientamos que o Clériston   

Andrade é referência para parto de alto risco.
Assessoria de Comunicação

Blogue Central de Polícia, com informações e fotos de Marcos Valentim do Boca de Zero 9.
Cristine – MG; 28/01/2014 11:39:00

                 Lamentável uma cidadã em um momento tão especial passar por um ato de desrespeito. É vergonhoso, humilhante...POVO BRASILEIRO QUE DEPENDE DE SAÚDE PÚBLICA, ONDE ESTÃO NOSSOS POLÍTICOS? O QUE ESTÃO FAZENDO COM IMPOSTOS QUE PAGAMOS? QUANDO VÃO MELHORAR E OFERECER SERVIÇOS PÚBLICOS QUE ATENDAM A PESSOAS COM DIGNIDADE E RESPEITO. PAREM DE ROUBAR.
                                                                      Terça-feira, 18 de setembro de 2012.


 


ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Postagem: Blog. www (REDE MUNDIAL)

MANIFESTO EM VERMELHO - MINHA VISÃO SBRE O PARTO NOS DIAS DE HOJE



       Porém no mundo de insegurança e obrigações demasiadas em que vivemos, a mulher...
                   Decorrendo uma gestação sem riscos reais, suponha-se que o desfecho óbvio da mesma seja naturalmente um parto, certo?                                      
                  Porem no mundo de insegurança e obrigações demasiadas em que vivemos, a mulher teve de deixar de lado seus instintos de fêmea para assim poder se tornar mais igualada aos homens financeira e profissionalmente, devido a todo um contexto da atual necessidade humana no mundo dito moderno.
Sendo assim a mulher contemporânea passou a tomar (muitas vezes só) a frente da família, educando e mantendo de todas as formas a prole.


                  Vejo que ao longo dos tempos o parto vem sendo inutilizado por não se mostrar tão rápido e pratico para todos os envolvidos, principalmente para o Dr. Apressado.
 
                  Vendo por esse ângulo institucional, marcar uma data prévia para a retirada do bebê pode até parecer a melhor opção, em questão de organização e previsibilidade, fugindo assim das eventualidades e desconfortos vividos no fim da gestação e do parto.

                                    Ter de esperar 42 semanas para ter o filho tão esperado nos braços, entrar em trabalho de parto a qualquer momento e ser pega de surpresa, sentir todo o processo natural de dilatação e por fim a expulsão do bebê pela vagina (Que convenhamos foi feita pra isso...rs) acaba soando a muitas como antiquado e animalesco.

                    Sem lhes ocorrer que tudo isso é como deve ser, ou serão essas naturalidades tão ruins assim?


              Será o Criador imperfeito a ponto de nos ter feito incapazes de realizar o papel no qual Ele nos destinou?

 
                    Não Creio! Enquanto imagem e semelhança de meus pais, eu também sou naturalmente perfeita).

                   Com a Globalização o parto deixou de ser uma fisiologia e um patrimônio especifico de mulheres, para se tornar um evento médico dominado e friamente calculado por um certo Dr. Apressado, que com seu relógio de pulso e seus pensamentos convictos e céticos quanto a evolução natural de um parto, quer de todas as formas fazer com que aquilo acabe logo...Para o bem da mulher e do Bebê?! Ou para o bem dele próprio?
                                  

                   E me desculpem, mas médico como esses só existem por que mulheres que partilham desse pensamento dão total apoio a eles...E acham, ou acreditam cegamente neles, se sentindo incapazes de dar a Luz a seus filhos...
                  

                  E através daquela velha história de falsas justificativas foram acabando com nosso poder de parir as crias, legando a eles, Doutores Que Estudaram Para Isso, nosso corpo e nosso papel mais sagrado.

                  E como se não fosse o suficiente, basta ficar grávida que outra fonte de medo irá fazer parte de sua rotina.

                 Aquelas histórias trágicas  (Pois é claro que os partos belos nunca serão contados...rsrs)  de partos malsucedidos, complicados, sofridos, que aconteciam vezes por uma complicação fisiológica ou até por uma má assistência na solução da mesma, eram usados para nos convencer de que vamos certamente morrer de parto.
Isso bastou parar epidemia da cesariana eletiva ser vendida como uma forma de não sofrimento e até morte.

                 Volto a repetir, NÃO SOU CONTRA A CESARIANA BEM INDICADA, sendo que nesses casos, só nesses casos ela é muito bem vista, como uma forma de salvar vidas que precisam ser salvas...ponto.

                 E foi assim, que de mãe pra filha que essas histórias (uso história com H pois falo de passado real.) foram nos assombrando, nos podando, acabando com nosso poder feminino e com o domínio de nosso corpo e sexo.
Atenuando ainda mais o medo e a insegurança natural que rondam nosso pensamentos quanto ao desconhecido parto e todas as suas misteriosas sensações.

                O grande problema da disseminação desses "causos" mórbidos sobre partos trágicos, é que para as mulheres mais inseguras, que foram educadas a acreditar que seus corpos são imaculados ao toque sexual, que seus sangue mensais são nojentos e que sua vagina não passará um bebê nunca, acreditam e passam a ter um total pavor de parto.

                Sentem uma verdadeira fobia ao se imaginarem suadas, meladas de fluidos e nuas a gemer loucamente de uma "dor" até então desconhecida, que para elas irá rasgá-la por dentro e por fora, acabando ao final com sua intimidade na passagem de um ser humano por um lugar que elas acreditam ser desproporcional.

                Enquanto para outras mulheres essas histórias não causam nenhum terror, pois sabem e sentem que seus corpos, suas mentes e suas almas estão prontas a se partir e parir suas crias como deve ser.
Elas não são melhores que as que sentem pavor, são apenas seguras em relação a sua fisiologia feminina.

                Essa diferença entre elas, é o fato de que as escolheram; esperar o parto, estarão seguras para cumprir com resignação essa obra maravilhosa de trazer a luz no tempo certo seu filho. Confiando na providência de um mecanismo perfeito...Que eu tomo a liberdade de chamar de Todo...

                Essas mulheres que quebraram a barreira do medo, sabem que a passagem do filho por suas vaginas não é meramente uma opção, e sim um grande rito de passagem, uma celebração mística e espiritual necessária para ambos, mãe e filho unidos de corpo e alma num mesmo propósito...O Nascimento e Renascimento.
Juntos, celebrando o fim de uma jornada para se iniciar outra ainda maior e tão bela quanto.

                Para essas mulheres, o grande gozo da vida estará garantido...Eu ainda não vivi nenhum tão espiritual.

               Talvez esteja pensando: "Mas que mulher mais arrogante essa." Por isso eu te digo de coração verdadeiro...
O que me intriga não é só o fato de uma mulher em perfeita condição preferir que abram seu corpo para a retirada prematura de seu filho do aconchego do seu ventre.

               É principalmente saber da amplitude dessa castração do Dom   (não vejo outro nome...rs), vendo que apesar de as mulheres modernas terem se emancipado de seus "senhores", podendo votar, trabalhar e planejar sua família, lutando fortemente dia a dia para continuar evoluindo e prosperando.
              Ainda assim se acorrentam por opção, se colocando no papel de sexo frágil novamente, necessitando de mil apetrechos e aparatos, manobras e medicamentos para forçar e manipular uma situação que por si só acontecerá mais cedo ou mais tarde...Sempre no tempo certo de acontecer...

             Acho triste ver essas mulheres fortes e decididas, que lutam e conquistam seus objetivos pessoais, se enganando ou sendo enganadas para que permitam que seus corpos e filhos sejam tão brutalmente agredidos.

             Essa passagem pelo parto e pela vagina não é pra gritarmos orgulhosas ao mundo que parimos, é sim de suma importância para ambos, pelo simples fato de que é necessário (AO MEU VER) passar por todo esse processo de angústia e superação de seus próprios limites, se expondo ao maravilhoso turbilhão de hormônios naturais que irão garantir ao bebê um pulmão devidamente saudável e um começo de vida tranquilo sendo recepcionado pelo aconchego do colo de sua mamãe...sentindo seu cheiro e beijos.

              O que irá garantir também a nova mamãe uma descida de leite mais tranquila e prazerosa, ajudando no inicio da relação mãe e filho igualmente bela, evitando e muito uma possível depressão pós-parto ou baby blues.

              E no fim dessa 1° viajem que é o parto, poder enfim vislumbrar a grandeza da obra Divina em constante evolução,  e ao mesmo tempo tão belamente primitiva e instintiva, de um ser pleno e totalmente capaz de obra igualmente sublime e grandiosa que é gestar uma vida nova, parir e manter viva através de si...

             Penso (Eu comigo mesma...rs) que a mulher que não passa por esse processo de vivenciar plenamente a gestação e o parto, poderá se sentir confusa, insegura e desamparada, afinal o parto tem uma funcionalidade,  que é proporcionar um aprendizado imediato e instintivo de reconhecimento da cria e vice-versa...
O que obviamente trará a mãe uma segurança física e emocional maior no desempenho de sua nova função.

            É fato que uma mulher que se preparou durante a gestação, tanto para o parto quanto para a "maternagem", terá possibilidade e bastante confiança em amparar seu recém nascido desde o primeiro segundo de vida.
Se sentirá apta em amamentar, manusear, cuidar, acalentar e até entender seu filhote em amplos sentidos.

            Por consequência óbvia, a mulher que pariu (seja natural, normal, em hospital, em casa de parto, em domicilio, com ou sem dor.) estará fisicamente disponível para atender seu bebê que acabou de nascer.
Ouvirá seus instintos com mais facilidade, sem tantas limitações no pós-parto, sabendo se manter mais tranquila mesmo em meio as crises de adaptação de seu pequeno ou até dela mesma...rs

             Essa mulher que quis de coração conquistar seu parto, tentou de todas as formas, e mesmo as que por algum motivo não conseguia terminar o parto via vaginal, foram transformadas e fortalecidas por ele.

             Isso nunca irá dizer que somos melhores que as mães que não pariram seus filhos por opção, não é isso...
Somos igualmente mães de nossos amados filhos, desde o ventre até a eternidade...Então penso comigo.

            Por que então não proporcionar o melhor a ele desde o começo? Deixando ele escolher o tempo de nascer.

                                                               Escrito por: Julia Luah mãe de Zion e Eloah.


ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Postagem: Blog. www (REDE MUNDIAL)

segunda-feira, 17 de março de 2014

PARTO E TRANFORMAÇÃO, A EXPERIÊNCIA DE UMA DOULA

                Hoje, trago um texto que escrevi em julho de 2010 sobre o primeiro parto que assisti em casa.

               

                                     Relendo este texto, dou-me conta que ele é perfeito para esse momento de vida em que tenho retomado algumas atividades, refletido sobre minha prática como Doula e sobre os rumos próximos que darei à minha vida profissional.


                                        
                                       Quando leio o relato, tenho certeza da maravilha que é acompanhar partos. Partos são momentos transformadores, e por mais clichê que isso possa parecer, é a mais pura verdade. Sou outra mulher depois de quatro anos de doulagem. O maior aprendizado de ser Doula, para mim, é entender que a transformação é algo que acontecerá independente da minha vontade, independente se estou pronta ou não. Ela virá. E a única coisa a fazer é mergulhar nisso e entregar-se ao processo. Acho que a principal característica que nasce em uma Doula é humildade. Humildade em reconhecer que o processo de parir, por mais que haja apoio e técnicas, depende apenas da mulher, por mais que a gente sofra com isso, tem coisas que estão para além de nós mesmos. Também cultivamos humildade especialmente dentro de hospitais, onde aprendi que quanto mais invisível, melhor.

 
                 Ali não é lugar de militância e faz parte da escolha daquela mulher, não da nossa escolha. E se acreditamos em empoderamento, há que se deixar que o casal tome decisões, você pode sugerir suavemente, mas a palavra final não é sua, definitivamente. Suavidade é outra coisa que se aprende e também qual é o nosso lugar. A gente aprende que menos é mais e que nem sempre a mulher vai querer que estejamos em volta dela. E precisamos respeitá-la. O parto é dela e merece todo o nosso apoio e apoio é estar junto, não fazer pela pessoa. Mas chega de conversa, vamos ao texto. E que ele sirva de inspiração para muitas mulheres e homens.

                                        Julho/2010. No dia dos namorados, 12 de junho de 2010,  tive a oportunidade de assistir um parto em casa. Foi uma experiência única. Estou, agora, tentando descrever o indescritível. A parteira me telefona, dizendo que a gestante está em trabalho de parto. Chego à sua casa e sinto uma paz e um profundo acolhimento. Chego em silêncio ao lugar sagrado do parto. E vejo a mãe, muito empoderada e totalmente recolhida em seu mundo interno. Parecia meditar. A cada contração, a volta para dentro de si mesma, a busca de forças em seu mundo interno e era mágico acompanhar aquele momento. Sentia ali o poder do feminino e era como se aquele poder me empoderasse também e sentia a força de ser mulher e o poder que é dar à luz. O silêncio se fazia presente e só era possível ouvir o som de uma música meditativa que tocava ao fundo.

Impressionante. Essa era a palavra que definia bem meu estado diante daquela mulher. Ela sorri para mim, me chama para dentro do quarto e me acolhe. Eu entro sem jeito, pedindo licença, sem querer atrapalhar. Vejo também seu companheiro. Um homem que dá sustentação àquele processo. Parceria. A união, a lua nova, o encontro do sol e da lua e o nascimento de uma nova família.

                                        Toda a família participava com alegria daquele momento, auxiliando de diferentes modos. Senti-me em casa. Senti como se estivesse voltando para casa, para um lugar há muito tempo conhecido. Um lugar onde não havia medo, mas sim entrega e confiança. Essas palavras ecoavam em minha mente. O trabalho de parto se estendeu pela manhã e fomos almoçar. Um almoço preparado pela mãe da mãe, uma geração de mulheres se apoiando, exercitando a confiança e desafiando um mundo que diz que parto em casa não é mais possível. A mesa estava alegre, especialmente com a presença da primogênita daquela mãe que estava para parir mais uma linda menina. A criança tem dois anos e meio, é muito amada e esperta. Entre nós duas houve um encantamento à primeira vista.


                                               Durante o almoço, o pai desce correndo as escadas e chama a parteira: “está na hora”. A parteira sai correndo e o médico também. Eu vou aos poucos. E chego ao lugar. Lá está a mãe. Fico admirada diante dela, diante de seu poder. Entro em outro estado de espírito. Aquele momento único contagia a todos capazes de sentir, de perceber o que está ocorrendo ali. O nascimento de um novo ser. Uma mulher dando à luz. E certamente, naquele momento lindos raios de sol deviam estar saindo daquele útero em direção à terra. Intensidade. Um intenso sentimento de plenitude tomava conta de mim. E agradeci por ser mulher e por poder presenciar aquela hora.


 
                                             
                                            A parturiente sente que cada vez mais é chegada a hora e vai nascendo junto com sua filha. Há uma força que vem de dentro da mãe e toma conta de todo o ambiente. Também me sinto forte. Vocalizações. Tenho vontade de vocalizar junto com ela. E sinto como se muitas e muitas gerações de mulheres estivessem ali juntas parindo e auxiliando aquela mulher e seu bebê a nascerem. Sinto-me plena. E a nova menina nasce, em casa, na água. Uma alegria toma conta do meu ser, bem-vinda Iara Maria! Rainha das águas.
 

Respeito aos limites da mulher

Estrutura da mulher...
 

                                           Em média, sete entre dez mulheres que já tiveram filho passaram pela episotomia, um corte para aumentar a abertura da vagina. Apesar de esta prática ser tão rotineira, apenas 15% dos partos normais necessitam deste método, segundo o site "Amigas do Parto" (www.amigasdoparto.com.br), feito por quatro mães que são membros da Rehuna (Rede Nacional pela Humanização do Parto e Nascimento). O processo aumentaria a chance de sangramentos, inflamações e infecções, além de causar possíveis problemas na relação sexual.


"Se tiver que aumentar a abertura da vagina, isto vai acontecer de forma natural, na passagem do bebê", afirma a chefe do conjunto de enfermeiras obstetras da Alexander Fleming, Eliane Coutinho, 34 anos. Marilanda bate na mesma tecla: "Não existe essa coisa da mulher não ter passagem, isso é a coisa mais rara do mundo. Eu trabalhei por mais de 20 anos com partos e conto nos dedos as mulheres que precisaram de episotomia ou de cesárea porque realmente não tinham passagem. A estrutura do corpo feminino foi feita para parir, e ninguém precisa ir contra a natureza".

Já o Dr. Lopes acha que não dá para comparar "uma atleta com uma executiva, cujo único exercício praticado é andar do escritório até o estacionamento. Portanto, a necessidade da episotomia depende da estrutura do corpo de cada mulher".


                                                                                                                                         Agosto, 26/2013                                                                                                                                     Amanda Martins.

ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Blog: www (REDE MUNDIAL)

quinta-feira, 13 de março de 2014

A PERGUNTA QUE SE FAZ?


              SEM EXPLICAÇÕES...NATURAL É NATURAL


Parir? Por que?


Um texto da impagável Ana Cris Duarte sobre os motivos que levam uma mulher a querer experimentar o parto natural.



                         “Porque esse é o meu último filho, e eu preciso experimentar o que o meu corpo pode. Quero sentir meu filho passando através da minha bacia, abrindo meus ossos, fazendo eles quase quebrarem pela força do meu filho dentro de mim. Quero sentir meu filho descendo e encaixando sua cabeça nas minhas entranhas, milímetro a milímetro, como se estivéssemos dançando um tango emocionante, onde cada passo fosse totalmente calculado para o resultado perfeito. Quero sentir minhas mucosas cedendo espaço e esquentando a cada contração, quero sentir meu filho passando pelo mesmo lugar por onde ele entrou. Quero me sentir mais perto de Deus, ao ser capaz de produzir uma vida e colocá-la de forma segura neste mundo.


                          Quero sentir meu útero se contraindo com força, porque eu sou mulher e eu me sinto muito orgulhosa de poder gerar, gestar, parir e alimentar uma criança e se eu não vim no mundo para isso, eu não sei exatamente então o que eu vim fazer aqui. Quero sentir cada contração como se fosse o sopro de Deus direto para dentro do meu corpo, fazendo cada célula do meu corpo tremer com a energia desse evento.

                         Quero que meu filho sinta cada uma dessas contrações como se fosse um abraço forte que eu dou a ele, e como se Deus pessoalmente o estivesse embalando. Quero que ele perceba que algo importante e grandioso está para acontecer na vidinha dele. Quero que ele confie em mim para o resto da vida, como sendo aquela pessoa que lhe deu a vida e o colocou em segurança para fora do finito espaço uterino. Quero que ele confie nele mesmo para sempre e saiba que com esforço e perseverança ele consegue o que quiser.


                            Quero que ele saiba para sempre que eu e ele juntos, com o apoio do pai dele e a torcida do irmão, podemos tudo, que não há limitação para a nossa força! Quero provar a mim mesma que sou uma pessoa capaz, que meu corpo não é meu inimigo, pelo contrário, que ele é meu amigo, meu companheiro, meu templo e meu porto seguro. Quero recuperar tudo o que perdi e o que me roubaram quando tive bebê pela primeira vez. Quero me sentir poderosa, forte, vitoriosa, criativa, emotiva, grande, bonita, durante o parto e para sempre.


                         Quero que meu filho nasça e venha imediatamente para o meu colo, para os meus braços, para os meus lábios, para as minhas mãos, para os meus peitos, e para isso preciso ter um parto natural. Quero que meu filho nasça em paz, sem dor, sem ser arrancado das minhas entranhas porque eu não me esforcei o suficiente. Quero que, se as intervenções forem necessárias, elas só o sejam porque eu fiz tudo o que estava ao meu alcance para evitá-las. Quero que meu filho nasça livre de drogas, e que assim permaneça por toda a vida, para que ele possa sentir sempre a beleza da vida de cara limpa, de pele limpa, de olhos limpos.

                        
                          Quero que ele se sinta calmo e seguro, por estar sempre nos braços meus ou seus, ouvindo minha voz ou a sua, e não fique sozinho chorando num berço aquecido, sem um único som familiar para se acalmar. Quero sentir-me mais capaz quando tudo isso terminar. Quero sentir minhas entranhas se abrirem e desabrocharem dando uma vida nova a essa criança. Quero sentir a dor, a ardência, o tremor, o prazer e a glória de parir. Quero me sentir mulher.”

Escrito por Rafaelly Viegas.

ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Postagem: www (REDE MUNDIAL)

A NEGRITUDE DE MÃE...


                                       ÁGUA LISA
                              MULHER AFRICANA

"Fala de Áurea

                     - A mulher africana, coitada! Ela é mãe de uma dúzia de filhos, sem contar com os que não sobrevivem à nascença e durante a gestação. Desde o despontar da idade para procriar até ao seu término, vai parindo incessantemente sem obedecer aos intervalos razoáveis de nascimentos. Esta situação provoca um desgaste psicossociologia permanente. Todo esse enxame de filhos cresce nas suas costas e alimenta-se do seu seio. Na maioria dos casos, os filhos não têm o mesmo pai. São filhos de cada um dos homens com quem se vai casando ao longo da idade fértil. Ela é obrigada a casar ainda muito jovem pelo pai, que lhe arranja um marido púbere, adulto ou velho, sem que a jovem participe na escolha.

 As jovens dos meios urbanos, que se julgam emancipadas das estúpidas influências do pai nas decisões matrimoniais, engravidam ainda na idade do ensino básico com os colegas da escola e têm de carregar o peso e as consequências desta situação pelo resto da vida. A família não dá aos jovens educação para o amor.


                         Olhando para a mulher, constatamos que ela trabalha em casa, confeccionando a comida para o marido, os filhos e as demais pessoas que a frequentam Cultiva os campos, semeia, sacha, colhe e carrega à cabeça os produtos agrícolas. Anda pelo mato à procura de lenha, junta-a em molho de, pelo menos, 50 quilogramas e leva-o para casa. Quando não tem água canalizada em casa, vai buscá-la ao fontanário, numa lata que traz à cabeça ou num barril que vai empurrando até chegar a casa. Feita a comida, põe a mesa para toda a gente comer. Tira a loiça da mesa e lava-a sozinha. Desde o nascer até ao pôr do sol está constantemente de pé e a trabalhar; anda de um lado para o outro, mexendo isto e aquilo, enxotando as galinhas, os porcos ou as cabras que ali estão, à solta, a comer a farinha de milho pilado, gritando pelo filho de sete meses que, naquela sua descoberta de gatinhar, se dirigiu para o pote de água e entornou o líquido precioso que a mãe acabara de pôr a refrescar. Todo esse trabalho é executado, muitas vezes, com um bebê amarrado às costas. Ela descansa somente à noite, depois de servir tudo ao marido.
 
                       A par desta vida esgotante, a mulher sofre no espírito e na carne os maus tratos do marido. Sempre que o homem chega a casa embriagado, e isto acontece quase todos os dias, ela reza aos deuses que a protejam da machadada ou catanada na cabeça. Passa o tempo em que o sono ainda não se apoderou do seu senhor apavorada. O marido chama-lhe nomes e bate-lhe. Mesmo assim, a mulher cuida dele. Quando ele adormece no lugar onde estava sentado, ela levanta-se, dá o bebê que traz ao colo à filha de dois anos para segurá-lo, carrega o marido e vai deitá-lo na cama, onde ele fica a dormir sossegadamente.
Quando a mulher consegue arranjar trabalho fora de casa, desempenha, em regra, as funções de empregada de limpeza, porque as suas habilitações literárias não lhe permitem fazer outra coisa.
 
                     A sociedade africana vê a mulher como uma escrava de quem o senhor, dito marido, tudo espera. Embora seja a mulher quem mais trabalha no lar, que cuida e educa os filhos, a sociedade não lhe reconhece m lugar de destaque pelos seus préstimos para a manutenção da família. Ela tem um estatuto social negativo e um papel não reconhecido. Perante este conspecto da dignidade da mulher, urge perguntar: que resta dela? Nada, nem corpo nem alma.

Fala do doutor:

                      - Os pais são a alavanca das mudanças de atitude dos homens perante a vida nos seus múltiplos aspectos. A educação e formação começam na família e a mulher é a principal dinamizadora de qualquer mudança de mentalidade na sociedade. Ela tem o privilégio de acompanhar mais de perto o crescimento dos filhos, transmitindo-lhes a sua visão do mundo e o seu modo de estar com os outros. Assiste-se hoje à emancipação da mulher face às amarras reles da tradição. Ela está a evoluir mais rápido que o homem. O que significa que quem tem servido de travão às mutações socioculturais é peremptoriamente o homem; o que faz pena, porque a África precisa de deixar cair certos usos e costumes para ascender ao nível da modernidade. Refiro-me, por exemplo, a todo o comportamento ditado por orientações de feitiçaria e de curandeirice obscurantista. A atitude do africano face à natureza e a si próprio deve pautar-se pelos critérios da simples razão ou da razão iluminada pela fé para os religiosos. As crendices constituem o muro difícil de transpor para o africano passar a trilhar o caminho do progresso técnico científico e a adaptar uma atitude filosófica, reflexiva, perante a existência. A mulher é a esperança dos novos tempos, que só emergirão com a reformulação dos conteúdos e métodos de educação e formação das crianças."

                      As passagens transcritas foram retiradas de um pequeno/grande livro que me surpreendeu (*). Foi-me ontem amavelmente oferecido pelo seu Autor, com uma gentileza recheada de modéstia. Conhecer e conversar com o moçambicano Manuel Matsinhe já foi um privilégio, vir com o seu livro no bolso representou, depois, a oportunidade de continuar a conversara (aprendendo muito) com ele. Não falo na iniciativa que me proporcionou conhecer Manuel Matsinhe e outros muito ilustres africanos com duas pátrias, porque quero deixar isso para o ilustríssimo escritor e que me faz o favor de ser meu amigo, o Carlos Gil, que lá botou brilhante e comovente faladura, cumprindo as suas obrigações perante a fama devida ao seu sucesso literário, num colóquio sobre migrações realizado ontem no Centro Comunitário da Quinta do Conde (Sesimbra). Por lá estive e muito aprendi e senti, cumprindo com zelo uma nova função que me foi atribuída e que desempenho com todo o gosto – membro da claque de admiradores, gênero clube de fãs, do ilustre Xicuembo que, diga-se, não perde aquele seu ar espantado de sempre de quem acabou de chegar das lezírias e não sabe onde se apanha o comboio para Maputo.

(*) – Reflexões de África/Perspectivas, Manuel Matsinhe, Quod Editor.

                     OBS: Trata-se de um pequeno livro de reflexões profundas e sem tabus, apresentadas sob a forma de diálogos entre um professor e alunos, todos africanos mas com diferentes ângulos de percepção, em que se ajudam a equacionar diversas temáticas da problemática africana. Para os interessados em África e nos destinos africanos, um livro a não perder a leitura.

Imagem: Copiada do Jorge Neto, um companheiro de bloganço cuja ligação, notícias e amor crítico à Guiné-Bissau me fez abjurar o juramento que há muitos anos fiz a mim próprio de não voltar a pôr os pés naquele torrão com tanto sortilégio como bênção e tão má sorte como maldição.

                                                                          Domingo, 18 de Setembro de 2005
                                                                         Publicado por João Tunes às 22:35


ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Postagem: www (REDE MUNDIAL).

NA HORA "H"

      AS VÁRIAS PERGUNTAS DA HORA DO PARTEJAR.

Reflexões...

Acho muito compreensível o medo que as pessoas (homens e mulheres, médicos e leigos) têm do parto normal. Este medo com certeza é do parto sofrido, dolorido, com muitos procedimentos e sem nenhum respeito que inevitavelmente temos que encarar em alguns serviços (ou até em cidades inteiras, como a minha). Ontem fiz um encontro de pais sobre plano de parto... me sentiu meio ridícula quando explicava os procedimentos de rotina, para que eles eram usados, porque deveriam ser evitados e depois terminava com "mas é a rotina dos hospitais".


Como conseguir um parto respeitoso? Como evitar procedimentos evitáveis? Como garantir a segurança e a vitalidade da mãe e do filho sem precisar se submeter a humilhações e exposição do corpo e da alma? Como convencer e sensibilizar os profissionais a não se anestesiarem frente à dor, à mulher nua expondo sua intimidade e sua fragilidade? Como explicar ao pai que ele não poderá entrar na sala de parto, porque lá já tem gente demais, falando demais, e atrapalhando demais?
Parece-me muito difícil... as vezes impossível...

Para a mulher que está parindo hoje não interessa que faremos treinamento em breve, que em breve o acompanhante poderá assistir o parto, que em breve a sala de pré-parto não será um corredor, com profissionais apressados cumprindo nada mais que o seu dever! Ela precisa disso hoje... cada dia que passa é um dia perdido, são várias e várias mulheres humilhadas com a exposição de seus corpos e com a indiferença frente à sua dor! Estamos atrasados, cada vez mais atrasados, não avançamos ainda um milímetro em direção ao parto humanizado.

ANGÚSTIA...

Admiram o meu trabalho, me sinto grata e lisonjeada por isso, mas me sinto nadando contra a maré..

Eu falo baixo e calmamente, mas as vozes conversando no corredor me desconcentram. Me preocupo em manter o ambiente confortável, a posição confortável, a iluminação mais intimista, a ansiedade controlada, o acompanhante orientado... mas cada vez que consigo deixar a mulher "centrada" e saio, quando volto encontro tudo como antes... como se a gente arrumasse um armário com cuidado e quando voltasse lá está tudo bagunçado novamente.
Acho que alguns destes profissionais precisam de treinamento, sensibilização, educação. Outros precisam  ver que o discurso é diferente do ato, e que pequenas atitudes do dia a dia fazem diferença para AQUELA MULHER...

Sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Postagem: www (REDE MUNDIAL)

O DIA DO PARTEJAR NA ESCOLHE E NEM ESPERA...


             MULHER NÃO É ATENDIDA E DÁ À LUZ NO GRAMADO DO HOSPITAL

                          Uma mulher de origem indígena deu à luz no gramado do Centro de Saúde de San Felipe Jalapa de Diaz, no México, após ter seu atendimento negado pelos médicos do hospital, segundo a imprensa local. O caso aconteceu no dia 2 de outubro, e é investigado pelas autoridades, segundo o jornal “La Razón”. De acordo com testemunhas citadas pela publicação, Irmã López Aurélio, de 28 anos, foi ao hospital durante a madrugada do dia 2 após perceber que estava em trabalho de parto. 
                          Inicialmente, os funcionários informaram que havia pouco pessoal para o atendimento aos pacientes, devido a uma greve parcial, e que não poderiam admiti-la. Sem falar espanhol, a mulher não conseguiu explicar sua situação, e não foi atendida.

  
                         Ela e o marido ainda continuaram por algumas horas no hospital, aguardando que ocorresse a troca de turno de enfermeiros e médicos, na esperança de que alguém os atendesse. Já pela manhã, Irmã percebeu que o nascimento de seu terceiro filho se aproximava. Segundo o "La Razón", ainda sem atendimento, ela foi para o pátio do hospital e deu à luz na grama, ajoelhada. A criança caiu no solo, sem ninguém para ampará-la. 

                         O jornal relata que apenas após o nascimento os funcionários do hospital se mobilizaram e atenderam a indígena e seu filho, que foram levados para dentro do centro de saúde. A criança é um menino, que nasceu saudável e passa bem. Autoridades locais investigam o caso. Funcionários da clínica sugeriram que a barreira linguística dificultou a comunicação e levou a uma confusão e à falta de atendimento, segundo o jornal mexicano. O secretário de saúde do estado de Oaxaca German Tenorio, disse que a dificuldade de comunicação não justifica a negligência médica. Ainda de acordo com o “La Razón”, pelo menos outros dois casos semelhantes já foram registrados no centro de saúde. 

                                                                     Quarta-feira, 09 de outubro de 2013.



ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Postagem: www (REDE MUNDIAL)

A ARTE DO PARTEJAR DA ÉPOCA



               O PARTO QUE NÃO PERTENCE À MULHER


                      
                    Em qual parto a mãe mantém contato com o próprio corpo?


No dia da criança, estive em SP para um evento organizado pelo Instituto Alana sobre Criança e Consumo, onde não só pude aprender muito, como também tive o privilégio de conhecer várias mães blogueiras. Entre elas estavam Kalu e Renata, que são algumas das vozes por trás do incrível Mamíferas. Como o excelente nome do blogue já indica, elas são árduas defensoras do parto natural, da amamentação prolongada, da maternidade por apego, e de tudo que, num mundo utilitarista e apressado como o nosso, é visto como radical.

  
Pois é, vivemos num país em que dizer que o parto natural é melhor para a mãe e o bebê é visto como radical. Em que o senso comum insiste que o único do parto possível é a cesárea. Isso, além de absurdo, vai contra o que recomenda a Organização Mundial de Saúde, que só considera cesárea aceitável em 15% dos casos, e não em 85%, como ocorre no Brasil.

Em agosto eu, que optei por não ser mãe, virei titia pela primeira vez. Meu irmão e minha cunhada insistiram que queriam um parto natural, humanizado. Foi dificílimo não pelo parto em si (feito na água), mas pelo desafio em encontrar um médico que tivesse essa mentalidade. Eles passaram por oito médicos e tiveram de peitar o plano de saúde, que não queria pagar o parto natural. Um desses médicos disse a minha cunhada: "Você só precisa se preocupar com o enxoval; o resto, deixa comigo". Tem jeito maior de excluir uma mulher do seu próprio corpo?

 É disso que Nanda, que atualmente vive em Maceió e tem seu próprio blogue, mas é parte atuante do Mamíferas, fala neste guest post, que publico com grande orgulho. Discutir gravidez e parto e tantas outras coisas mamíferas são definitivamente assuntos feministas, que só não têm mais espaço por aqui porque me falta a experiência. Mas, pessoalmente, apoio todas as causas dessas mães tão "radicais". Aprenda com o post da Nanda (eu aprendi muitão).
Embora não haja consenso na comunidade científica, há fortes evidências de que as sociedades primitivas eram matriarcais. Isso me parece bem óbvio, afinal, as mulheres sempre foram as geradoras de nova vida, e não pareceria tão óbvio o papel dos homens neandertais nessa reprodução vital. A mentalidade matriarcal sobreviveu muito bem enquanto a raça humana permaneceu nômade, mas foi só ancorar-se em um lugar para que tudo mudasse.

 
O surgimento da propriedade privada foi uma dessas mudanças, que veio lado a lado com o patriarcado. Isso transferiu o papel da mulher de líder a uma simples perpetuadora dos genes masculinos, para que a propriedade adquirida com tanto esforço não se perdesse nas gerações futuras.


Mas veio uma era, e foi-se uma era, e o homem ainda não controlava a vagina. Ele poderia tomar a mulher para si, enxertá-la de sementes, mas quem gerava e pária continuava sendo a mulher. E o parto continuou cercado da aura feminina: as parteiras eram sempre mulheres (e esse comportamento repete-se nas sociedades tribais não inseridas na cultura majoritária), e homens eram proibidos no momento do parto até muito recentemente.


Até que veio a rainha Vitória da Inglaterra. Provavelmente não a primeira mulher, mas o primeiro registro de um parto em posição de litotomia -- deitada, com as pernas abertas para o médico e o rei serem testemunhas daquilo que os homens por muito tempo foram proibidos de presenciar. Não é preciso ser médico ou blogueira de maternidade para entender que dar à luz deitada dói muito mais, basta um conhecimento prévio sobre como a gravidade funciona. Não à toa, a rainha Vitória também nobilizou o parto com anestesia.

Antes da anestesia, já existia a cesárea. Abrir uma mulher ao meio quando na verdade ela já estava aberta, só que em outro lugar, era visto como medida de última instância só praticado em parturiente já mortas, ou prestes a morrer já que a cesárea as mataria de qualquer forma. Existe uma história sobre o nascimento de Júlio César ter sido pela via bárbara cirúrgica, e presume-se ser daí a origem do termo cesariana, mas o termo caedare cortar parece ser uma justificativa mais plausível.

Junta-se seis a meia dúzia: a medicalização do parto e os avanços da ciência, e tem-se uma sociedade cesarista. O homem finalmente conquistara aquele quinhão reservado à fêmea e agora podia ele mesmo tomar conta do serviço. Bastava, para isso, que a mulher se deitasse, se anestesiasse, e se deixasse cortar.
 
Existe uma falsa ilusão de que a cesariana é uma libertação da mulher das obrigatórias dores do parto. Dor essa, reza a lenda, que Deus presenteou Eva após o Pecado Original: "Multiplicarei as dores de tua gravidez, será na dor que vais parir os teus filhos", disse o bom velhinho. Que o parto é a dor mais excruciante que uma mulher jamais sentirá na vida, é consenso universal. Os filmes mostram, as novelas mostram, sua avó falou e você leu a respeito. Não parecem haver dúvidas de que parir é ajoelhar no milho, e a cesariana são joelheiras.


Isso se reflete na escolha de grande parte das mulheres pela via cirúrgica, já no início de sua primeira gravidez. Como poderia uma mulher que nunca sentiu sequer as dores do trabalho de parto saber que não aguentaria as dores do próprio? Senso comum. Louvemos a cesárea, e não só aqui no Brasil, mas como um fenômeno mundial que cresce a olhos vistos e torna-se um problema de saúde pública.

Mas vamos elucidar um pouco essa cirurgia tão banalizada. Wikipédia diz: “São sucessivamente abertos o tecido subcutâneo e a aponeurose dos músculos reto abdominais, separados os músculos na linha média e abertos os peritônio parietal, o peritônio visceral e a parede uterina.

O próximo tempo é a extração do feto, seguida da retirada da placenta e revisão da cavidade uterina. São então suturados os planos anteriormente incitados.” Contando: seis camadas. E esqueceram de mencionar o tecido cutâneo, a própria pele. Ainda soa agradável, se levarmos em consideração que a mulher estará anestesiada do pescoço para baixo.

Tendo em mente que a cesárea é uma cirurgia de grande porte, percebemos que ela não é a solução para a tão temida dor, mas sim um adiamento da mesma. Gostaria muito de ser apresentada a uma mulher que conseguiu passar pelo pós-operatório de uma cesariana sem doses cavalares de analgésico: eu apertaria sua mão com uma chave-inglesa para verificar o funcionamento de seu sistema nervoso.


Eu não sou contra a cesárea, não sou mesmo. Acho um procedimento médico muito importante quando necessário. E ele dificilmente é necessário. Mas ele agrada o sistema ao serializar os nascimentos, agrada aos homens, que participam mais do que a mulher em uma cesárea, e agrada a algumas mulheres, que podem procriar sem sentir dor.

E é esse último ponto que incomoda mais: a cesárea como uma opção de via de nascimento, e não como um procedimento médico de emergência. Estamos em um blogue feminista, e se eu estou escrevendo aqui, é porque obviamente defendo o direito da mulher ao próprio corpo. Defendo isso com unhas e dentes, tanto que defendo o aborto.


Enxergo como uma questão bem simples: se não quer parir, aborte. E quando eu falo parir, veja bem, eu estou falando do parto normal, vaginal, natural, o nome que você quiser dar (apesar de serem todos diferentes entre si). Quem pare é a mulher, e quem faz a cirurgia, ou a cesariana, é o médico. Parir, como uma questão linguística e sociocultural, é retomar algo que nos foi roubado pelo homem, ao avançarmos tanto em conquista pela emancipação.

Voltando à questão, existem vários motivos pelos quais uma mulher engravida: acidente, desejo e futilidade sendo um resumo básico da questão. Se foi por acidente, apesar de ser proibido por lei e um enorme tabu, o aborto ainda é uma opção arriscada, por não ser legalizada mas repetida à exaustão. Não abortou? Então deal with it: tem um bebê crescendo dentro de você e agora é ele quem escolhe a hora em que vai sair.

Se você optou por compartilhar seu corpo com o de outro ser e vejam bem: eu só começo a falar sobre o direito desse outro ser a partir do momento em que ele passou a ser uma escolha da mulher que o carrega você não tem o direito de escolher a hora em que ele vai nascer. Existe uma série de fatores biológicos que determinam isso, que convergem para o trabalho de parto e o parto em si.

Considero uma cesariana eletiva mais criminosa do que um aborto até porque nem vejo o aborto como crime. E a cesariana eletiva me intriga de sobremaneira: se você não arrancou esse feto quando ele ainda não estava pronto, por que é que o arrancaria antes do tempo anyway, só porque ele teoricamente já estaria apto a sobreviver?

Além de uma série de outras maneiras de aliviar as dores do parto, existe a anestesia, que evoluiu bastante desde o clorofórmio da Rainha Vitória. Claro que a anestesia traz consigo alguns percalços como a obrigatória posição de litotomia e consequente episiotomia (corte no períneo), mas dói menos. Se é a busca pelo direito de não sentir dor, a solução é a anestesia, não a cesariana.
 
E podemos entrar no mérito das histórias escabrosas que foram ouvidas da vizinha da tia-avó, sobre os absurdos oriundos de um parto normal malconduzido e/ou na saúde pública. Mas podemos também lembrar que a cesariana seriada é um fenômeno novo na medicina, e não parecem existir muitas pessoas dispostas a estudar os efeitos dela na população (talvez porque quem estude essas coisas sejam médicos, e a maioria dos médicos se beneficia da cultura cesarista).


Se lutamos por direitos da mulher, lutamos também pelo direito de parir. De parir, como um ato de protagonismo da mulher, de recuperação de seu matriarcado e de sua vagina. E essa é uma luta feminista também.

                                                               Quinta-feira, 27 de outubro de 2011





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terça-feira, 11 de março de 2014

ESSA TAL DE CESARIANA

Documentário debate a realidade dos partos e o alto índice de cesarianas no Brasil


A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera aceitável um índice de até 15% de cesáreas.
Mas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, esse índice chega a 52,2% – nos hospitais particulares salta para 90%.

Em 2010, quase 1,5 milhão de crianças nasceram de parto cesariano, contra 1,39 milhão de parto normal.

São crianças que vieram ao mundo por meio de uma grande cirurgia abdominal.
“Quando não tivermos mais nenhuma mulher parindo por via vaginal, por absoluta incompetência da nossa sociedade de lidar com esse fenômeno, talvez seja tarde demais”.


Esse é um dos alertas do documentário o Renascimento do Parto, com a participação especial do cientista francês Michel Odent, da antropóloga norte-americana Robbie Davis-Floyd, da parteira mexicana Naoli Vinaver, do ator e diretor de cinema Márcio Garcia e sua esposa, a nutricionista Andréa Santa Rosa.

Dirigido por Eduardo Chauvet, o filme foi finalizado no ano passado, mas ainda em fase de distribuição.
Mas você pode ver o trailer promocional, que traz argumentos suficientes para você pensar sobre o assunto.
                                                                                                  03.07.2013 Às 06:30


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