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segunda-feira, 14 de abril de 2014

MANIFESTAÇÃO





Parto humanizado: protagonismo e amor sem dor



No último; sábado centenas de mulheres, homens e crianças foram às ruas do país para falar de algo que, como tantas outras lutas sociais, permaneceram silenciadas e criminalizadas pelo Estado: a humanização do parto. Barrigas pintadas, sorrisos dês-maquiados e peitos amamentando revelavam mulheres mães que não tinham medo de mostrar uma íntima escolha, o ato e o poder de dar a luz.



Publicado em  21 de outubro de 2013
 
Em São Paulo. Foto: Yuri Catelli /UOL.

Manifestações no fim de semana denunciaram modelo obstétrica atual: ele criminaliza profissionais que deixam à mãe o poder de parir

As manifestações ocorreram no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Curitiba, Brasília, Campinas (SP), Santo André (SP) Juiz de Fora (MG), e em mais 26 cidades. Além de estampar nas barrigas e nos rostos as qualidades do parto humanizado natural (veja infográficos abaixo), as ativistas também queriam denunciar a perseguição que profissionais do parto humanizado; como doulas, obstetrizes e enfermeiras obstetras estão sofrendo em maternidades do país.


“O nosso ato é para apoiar todos os profissionais que lutam para que a mulher seja protagonista do seu trabalho de parto e, isso faz com que as cesáreas feitas por conveniências médicas não aconteçam”, destacou a funcionária pública Paula Inara, de 38 anos, uma das coordenadoras do Movimento pela Humanização do Parto.

Isso não significa, porém, ser contra a realização de cesarianas. As ativistas reivindicam que a escolha seja, acima de tudo, da mulher; e que se limitem estas intervenções aos casos em que há risco real para mãe ou para o bebê – e não sejam adotadas de forma indiscriminada, como se faz no país.


O Brasil é hoje o campeão de cesáreas no mundo. A taxa chega a 90% no setor privado e quase 50% no setor público. A recomendação da Organização Mundial da Saúde é um índice de até 15%. Reportagem da A Pública deste ano sintetizou uma série de denúncias e números de casos de violência nos partos medicalizados. Uma pesquisa destaca: uma em cada quatro mulheres sofre violência no parto.

O coletivo Marcha Pela Humanização é formado por mulheres, famílias, organizações e profissionais da área que se unem desde o ano passado em movimento único. O objetivo escreve em página do Facebook, é “levar informação de qualidade às mulheres; criar demanda por uma assistência ao nascimento digna e baseada em evidências científicas; pressionar autoridades a tomarem medidas para cumprir leis que só estão no papel; e criar outras diretrizes que favoreçam mulheres e profissionais que acreditam na humanização do cuidado a gestantes e recém-nascidos”.


O assunto suscita polêmica. O filme Renascimento do Parto, em cartaz há mais de dez semanas em diversas cidades do país, retrata a realidade obstétrica mundial contrapondo diversos depoimentos. A obra promove também uma reflexão sobre o futuro de uma civilização nascida sem os chamados “hormônios do amor” — liberados apenas em condições de trabalho de parto humanizado.


Há pouco, o movimento alcançou vitória pequena mas importante. O Projeto de Lei do Senado (PLS) 8/2013, de autoria do senador Gim (PTB-DF), foi aprovado no final do mês de setembro. Está desde dia 10 de outubro tramitando na Câmara. O projeto altera a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/1990) para incluir a obrigatoriedade de obediência às diretrizes e orientações técnicas e a criação de condições que possibilitem a realização do parto humanizado nos estabelecimentos de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).
  
 Por Bruna Bernacchio
ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO