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domingo, 15 de abril de 2012

SABER E APRENDER...

Ato Primitivo de Dar à Luz
            As mulheres do antigo Egito e da América pré-colombiana pariam de cócoras ou ajoelhadas, aproveitando a força da gravidade. As índias tehuelches, da Patagônia e as onas, da Terra do Fogo, o faziam de cócoras e não existiam cuidados especiais. As índias apaches adotavam uma posição recostada. As maias e as astecas tinham parteiras, que dois meses antes do parto examinavam a posição fetal, faziam massagens abdominais e receitavam estimulantes não-tóxicos. As incas temiam o parto de gêmeos e banhavam o recém-nascido em água fria. Para as índias cunas, do Panamá, a gravidez era um período de angústia e o feiticeiro da tribo não assistia seus partos solitários por considerá-los degradantes. Por outro lado, entre os navajos, os partos eram públicos, pois o nascimento era glorificado. Na Oceania e no Oriente Médio, os parentes e amigos das parturientes demonstravam seu afeto permanecendo à sua volta contando histórias; no Laos, ainda hoje, cantam e bebem enquanto a mulher dá à luz. Os comanches, da América do Norte, e os yahaganes sul-americanos mantinham suas parturientes em tendas em meio ao vapor de plantas medicinais em ebulição. As persas acreditavam que andar a cavalo lhes facilitaria o parto, que sempre era normal.
POS DE PARTO
            Há dois tipos de partos: os naturais e os operatórios. Os naturais ocorrem sem a interferência direta do médico; já os operatórios necessitam de um instrumento cirúrgico. Acompanhe:
Parto na Água: Ao chegar ao mundo, o corpo do bebê passa do calor do útero materno à água climatizada. A mudança não é brusca e pouco a pouco o recém-nascido adapta-se ao novo meio. Em todas as civilizações procurou-se alcançar esta harmonia no momento do parto. Atualmente, houve um ressurgimento de técnicas mais naturais complementadas por métodos modernos para que o nascimento seja menos traumático, tanto para o bebê quanto para a mãe.
            Até o início dos anos 60, o primeiro choro do recém-nascido não era apenas o sinal de uma nova vida, mas, além disso, a síntese de preconceitos enraizados: parir era um ato doloroso, sempre fora considerado assim e ninguém poderia mudar. Felizmente, o círculo vicioso foi rompido com o método do parto na penumbra, célebre inovação do médico gaulês Francis Leboyer, que demonstrou que um ambiente sem ruídos nem luzes fortes tranqüiliza a mãe e reduz consideravelmente seu sofrimento. Quanto ao bebê, Leboyer lançou uma premissa: "O primeiro ato de violência que experimenta um ser humano é seu nascimento, já que passa de um ambiente tranqüilo e confortável a um mundo onde é tratado quase como um objeto. Por que não fazemos com que seja melhor?"
O caminho do parto sem dor estava aberto e foi seguido pelo médico inglês Brian Liberman, que no final dos anos 60 utilizou analgésicos que sedavam a mãe sem penetrar a placenta nem prejudicar o bebê. Apesar de sua contribuição favorável à prática indolor, os analgésicos não foram bem aceitos pela maioria dos obstetras, nem pelas próprias grávidas.
            O terceiro grande avanço foi o parto com a presença do pai, introduzido pelo americano "Nature" Bradley em meados dos anos 70. Seus fundamentos são muito simples: homem e mulher compartilham os exercícios pré-natais, ela não toma tranqüilizante antes nem depois do parto, ele a acompanha durante todo o processo e o recém-nascido não é afastado de sua mãe por motivos de higiene, mas entra imediatamente em contato com seu peito. De acordo com Bradley, o nascimento deve ser tão feliz quanto o amor que o originou. Não se tem o direito de dopar a mãe com remédios que a transformem em um ser passivo. Ao se fazer uma comparação com o restante do reino animal, é raríssima as espécies cujas fêmeas permitem que seus filhotes lhes sejam retirados logo após o parto. Então, por que não imitamos os animais?

             O quarto passo uniu o passado com o futuro e foi dado pelo Dr. Tucho Perusi, biólogo especialista em antropologia, ao descobrir que mais de 50 civilizações indígenas das mais diversas origens adotavam a posição vertical na hora do parto, seja de cócoras ou penduradas em uma árvore, para facilitar a expulsão do bebê. Até quase meados do século XX - pelo menos no Ocidente - havia sido utilizada a mesa de parto, um grande avanço da obstetrícia no início do século XIX; porém, no ano 1400 várias mães européias davam às luas sentadas e com os pés apoiados no chão. Essa informação animou Perusia a criar a famosa cadeira de parto, amplamente difundida e aceita, segundo o seguinte raciocínio: "A mudança da posição vertical para a horizontal ocorreu há apenas dois séculos e só foi feita devido ao interesse dos médicos por sua própria comodidade, sem pensar na mulher ou no bebê. Essa compulsividade pela posição horizontal, denominada erroneamente de clássica, subverte e interrompe o desenrolar natural das fases do nascimento, portanto devemos repudiá-la e voltar às origens".

               Sabe-se que, durante a gestação, o bebê flutua no líquido amniótico, recebendo oxigênio por meio do cordão umbilical e que o nascimento o força a transformar-se em um ser terrestre: passar da falta de gravidade para sentir seu peso real e ter que respirar por si mesmo. O médico russo Boris Pugachov perguntou a si mesmo se não haveria um passo intermediário que aliviasse essa crise quando, em 1965, junto com seu melhor discípulo, o hoje famoso Igor Charkovsky, deu início às experiências com partos aquáticos em mamíferos. O resultado mostrou que os animais ficavam mais alegres e serenos e o filhote, além de não se afogar, "mergulhava". Em seguida, Pugachov experimentou com seres humanos e sua conclusão satisfatória correu o mundo. Segundo ele, embaixo d´água, um bebê com uma hora de vida sorri e não tem medo de afogar-se. Os bebês agüentam até dois minutos submersos, fortalecendo, assim, seus pulmões. Eles se movimentavam como ágeis mergulhadores enquanto outros bebês permanecem imóveis em seus berços. O segredo é deixá-los na água e após cortar o cordão umbilical impulsioná-los uma só vez para a superfície. Depois o farão sozinhos, emergindo apenas a cabecinha para respirar. Inicialmente, Charkovsky tomava bebês nascidos por parto tradicional e, em seguida os levava à água. Desse modo, pôde concluir que a adaptação seria normal, caso as imersões ocorressem antes de o bebê completar sete dias de vida.
Charkovsky fez uma experiência com sua própria filha, mantendo-a em uma banheira de água morna logo após seu nascimento até quatro dias depois, submergindo-a e retirando-a para que ela se adaptasse pouco a pouco ao seu futuro meio.

               O precursor francês desse método foi o obstetra Michel Odent, que desde 1977 realiza partos aquáticos em uma famosa "sala selvagem", projetada com conforto, mas sem macas nem lâmpadas com uma piscina inflável cuja água é mantida a 37º C - temperatura intra-uterina. Segundo Odent, para o bebê o parto é uma mudança do estado de sua consciência, acelerando a zona primitiva do cérebro que controla as secreções hormonais e sua passagem do líquido amniótico para a água o faz sentir-se seguro e satisfeito. Para a mãe, a água é relaxante e ameniza suas contrações dilatando melhor o colo do útero, permitindo que ela se mova segundo sua comodidade, sua intuição mais profunda. Um recém-nascido é como um golfinho: quando submerso não respira e, para fazê-lo, emerge. A respiração origina-se pela exposição do ar e pela repentina mudança de temperatura.
               Qualquer que seja o método utilizado é importante que, após o nascimento o bebê não perca o contato com sua mãe. Foi constatado que as crianças que nascem por debaixo d’água são mais tranqüilas, já que a mudança de meio não se dá de forma tão brusca como nos outros métodos.
Alguns especialistas, contudo preferem adotar uma postura mais conservadora. Para tanto, mesmo adotando o método do parto embaixo d água, tomam algumas medidas de segurança caso uma situação anormal ocorra e a paciente tenha se for submetida a uma cesariana. Na Suíça e na Inglaterra, diversas mulheres dão à luz em banheiras em suas casas; neste caso, com assistência médica e uma ambulância equipada à porta.
               Em alguma região isolada da Amazônia ou da selva africana, em Bornéu ou nos Andes, no Alasca ou no Havaí, muitas mães continuarão parindo de cócoras ou de pé e levando seus filhos imediatamente ao rio ou mar, onde lhes é dado o banho batismal sem complicações ou nervosismo, como se essa nossa vida que se agita nas águas fosse a mais forte e bela do mundo. Essas mães não precisam de ajuda? Não sentem dores? Não têm medo? E o bebê, será saudável? Não deveria ser examinado por um pediatra? Essas são as perguntas que são feitas em nosso suposto mundo civilizado. "Se há algo que Leboyer nos ensinou, é que a vida flui de um ser humano para outro por um simples ato de amor e que o sofrimento do parto é mais um subproduto social do que uma verdade da natureza", conclui o dr. Odent.
              
              PARTO DE CÓCORAS: É a forma mais antiga de dar à luz, praticada em algumas aldeias indígenas, mas que volta a conquistar adeptas entre as mulheres urbanas. Segundo seus defensores, esta forma possui muitas vantagens: O canal do parto alarga-se naturalmente com a mulher nessa posição, diminuindo a compressão na cabeça do bebê. A força da gravidade também ajuda e recebe a ajuda do peso da bexiga e dos intestinos. Em geral não é necessária a incisão no períneo, nem a retirada forçada da placenta, que sai espontaneamente. A dor tende a ser menos intensa, mas se houver necessidade de anestésico, usa-se uma droga que não limita os movimentos. Não é necessário curso preparatório, pois a posição é considerada natural. Apesar disso, um obstetra brasileiro criou uma cadeira própria para esse parto, onde a parturiente pode descansar entre as contrações e visualizar o nascimento através de um espelho. Ao nascer à criança vai para um berço de água aquecida. Cena de parto na posição de cócoras, com a ajuda de uma cadeira obstétrica, na qual a mulher apóia para poder dar à luz.
 
              CESARIANA: Técnica cirúrgica reservada para situações anormais, quando não há nenhuma chance do bebê nascer de forma normal. Apesar disso, no Brasil, a maioria dos partos é de cesárea, mesmo que não haja necessidade. As recomendações são para casos de doenças na mulher como diabetes, hipertensão ou doenças sexualmente transmissíveis. Também é recomendada para casos em que o bebê não está na posição correta ou possui risco de sufocamento com o cordão umbilical. Para realizá-la, depois de aplicar a anestesia o obstetra corta sete camadas de tecido até chegar ao útero. Por uma incisão de 10 cm ele retira a criança e a placenta e limpa a cavidade uterina. Então faz suturas no caminho inverso, usando fios absorvíveis. Geralmente após passar por duas cesáreas, dificilmente uma mulher consegue parir uma terceira criança por outro método que não seja a cesárea.

                PARTO A FÓRCEPES: Atualmente há cerca de 500 tipos de fórcepes, todos compostos de dois ramos, que se dividem em colher, articulação e cabo. Quando a criança está no canal de parto, mas com dificuldades para nascer, o médico introduz delicadamente na vagina os ramos. As duas partes encaixam-se nas têmporas do bebê, que é puxado para fora ao mesmo tempo em que a mãe faz força para expulsá-lo. Essa nova função ficou conhecida como fórceps de alívio. Bem diferente era a versão antiga, na qual o fórcepes era introduzido às escuras para retirar bebês que não passavam pelo osso e assim causava várias lesões e seqüelas graves.
 
                PARTO DE LEBOYER: Essa idéia foi criada pelo cientista francês Frédérick Leboyer, na qual defendia um parto sem violência, feito na penumbra e num ambiente aquecido. Só que quase 30 anos depois de ter tido essas idéias, elas começaram a ser aceitas pela classe médica. A idéia consiste no seguinte: Assim que a cabeça do bebê surge, diminui-se a intensidade das luzes da sala de parto, já previamente aquecida. As conversas viram sussurros e um espelho é oferecido à mãe para acompanhar o nascimento. O obstetra apara suavemente a criança. Enquanto pulsa, o cordão umbilical é preservado. O pai que assiste ao parto é quem corta o cordão e leva o bebê para um banho quente. A idéia de Leboyer, que apresentou uma nova concepção de vir ao mundo pode ser aplicada para qualquer tipo de parto, inclusive a cesariana.

                 Mamada logo após o parto: uma das características do parto de Leboyer.
A posição da mãe durante o parto normal é decidida pelo obstetra. Parto Normal: O que se chama de parto normal é na verdade aquele que reproduz a posição ginecológica dos consultórios médicos. O processo de dilatação do colo do útero pode durar até 18 horas na primeira gravidez. A gestante é transferida para a sala de parto e lá recebe a anestesia peridural na maioria das vezes. A posição da mesa costuma ser horizontal, mas pode ser inclinada, de acordo com a opção da equipe médica. Depois de nascer a criança é apresentada à mãe antes de ir para a sala de reanimação. Enquanto isso a placenta é retirada pelo médico.

Baseado em Reportagem da "Revista Crescer" - Outubro/96.
Professor/Pesquisador: Nonnato Ribeiro

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