A
VIDA DE LUZIA FRANCISCA DA SILVA
TIA
LUZIA
O
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Estado
do Amapá, situado no extremo Norte do Brasil, possui uma área 143.453,70 km².
Faz limites com o Suriname e a Guiana Francesa a Noroeste, com o Oceano
Atlântico a Nordeste, com as ilhas Estuarias do Rio Amazonas a Sudeste com o
Pará a Sudoeste. A Cidade de Macapá é a capital do Estado, fica localizada ao
Sul e é banhada pelo Braço Norte do Rio Amazonas, e tem uma população estimada
de 220.962 habitantes informações do – IBGE / 99.
Em
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1841 foi criada a Comarca de
Macapá, 13 (treze) anos depois nascia “Mãe Luzia”, em 06 de setembro de 1856.
Na mesma data Macapá foi elevada à categoria de cidade pela Lei 281 do Estado
do Pará.
Em
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1862 já com 08 anos de
idade; sabia o número de escravos existentes em Macapá. Um novo panorama
demonstrava o progresso. Macapá já contava com 2.780 habitantes, dos quais
2.058 livres e, 722 escravos.
No
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dia 13 de setembro de 1943.
Mãe Luzia completava 89 anos e viu a cidade de Macapá, passar a ser Território
Federal do Amapá. Um ano depois em 31 de maio Macapá foi promovida à categoria
de Capital do Território, hoje Estado do Amapá.
O
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Início
A vida de LUZIA FRANCISCA DA SILVA, conhecida como “MÃE LUZIA”
como era chamada pelos seus parentes, nasceu por volta de 1854. Como diz a
Música “MÃES LUZIAS NO MEIO DO MUNDO COM UM DESEJO PROFUNDO, DE CUMPRIR O SEU
DEVER, PEDEM PROTEÇÃO PARA SÃO RAIMUNDO, PRA GUIAR SUAS MÃOS, E O DESTINO DE
QUEM VAI NASCER”.
De
naturalidade Amapaense trazia em seu corpo as marcas de MULHER LUTADORA que
foi. Casou-se com FRANCISCO CLAUDINO LINO DA SILVA, um jovem negro que se
tornou Capitão da Polícia. Tiveram 05 filhos.
José
Lino da Silva / Claudino Lino da Silva / Raimundo Eugênio da Silva / Melitina
Epifânia da Silva / Agda da Silva Xavier. Dona Agda tem uma filha/neta
que até hoje é viva e Dona Raimunda da Silva Picanço “Tia Dica”.
Neta de Mãe LUZIA, hoje com 76 anos de idade (Macapá, 02 de Fevereiro de
2000), que morou desde criança com Mãe Luzia. E aí, veio a terceira
geração de Mãe Luzia com: Claudino Lino da Silva e Francisca Santana da Silva.
Surgiram
os netos de Mãe Luzia.
- Raimundo Nonato da Silva – por apelido de BIGODE, hoje com 53 anos; do primeiro relacionamento, teve 02 filhos e do segundo teve 03, sendo 01 menina e 02 meninos;
- Adalberto Sant’anna da Silva – por apelido LILI, o mais velho com 73 anos, não teve filho nenhum;
- Claudete Sant’ anna Silva dos Santos, hoje com 59 anos, mãe de 02 filhos, sendo 01 menina e 01 menino;
- Raimunda da Silva Dias – por apelido DIDI, hoje com 71 anos, mãe de 09 filhos, sendo 06 meninas e 03 meninos;
- O último neto do casal EDGAR LINO DA SILVA, infelizmente o destino mudou o curso de sua vida, veio a falecer com 48 anos, de problemas no coração e assim deixando mais uma geração de Mãe Luzia, sendo 06 meninas e 03 meninos. Hoje recebe uma homenagem da Secretaria de Educação com seu nome em uma Escola do Bairro onde morou.
Mãe
Luzia residia numa humilde casa; a qual só foi conseguida, graças à venda de um
sitio, que possuía Mãe Luzia, morou até sua morte nesta humilde casinha, que se
localizava atrás da Igreja Católica da cidade (entre as ruas Mendonça Furtado e
Tiradentes), no beco o hoje chamado de Formigueiro, que recebeu este nome por
existir bem no meio desta, um enorme ninho de formigas.
Dicionário retratara
mulheres que fizeram história; Jornal do Estado de São Paulo, de 01 de agosto
de 1999; publicou algumas personalidades que inovaram e abalou os costumes de
sua época, uma dessas mulheres homenageada com o tema; CHICA HOMEM CUIDAVA DE
DOENTES; era Luzia Francisca da Silva “Mãe Luiza”.
Vieram as mudanças;
sua neta Didi trabalhava tirando areia da Fortaleza São José de Macapá para
construir casas próximo ao Macapá Hotel (que já foi Novo Hotel) (e
hoje voltou a ser novamente Macapá Hotel) e, que atravessava um Igarapé
para deixar à areia na Rua da Praia. Conta também que existia na beira da praia
um grande AÇAIZAL.
Segundo
D. Didi, o Sr: Francisco Claudino Lino da Silva, esposo de Mãe Luzia era
CAPITÃO e que este não era analfabeto, como diziam as pessoas. Continua D. Didi
narrando suas lembranças: Diz que chegou a ver as Fardas do Sr.: Francisco
Claudino Lino, porém esta não o viu de Farda, pois seu Francisco faleceu antes.
Diz que o Sr.: Francisco Claudino Lino teve várias mulheres e que sua fama de
homem “MULHERENGO” corria longe. Teve com estas, várias filhas, as quais foram
bem sucedidas em seus casamentos.
Conta
D. Didi que após o falecimento do seu esposo, Mãe Luzia foi lavar roupa para
fora, para poder sustentar seus filhos e acaba – los de criar.
Mãe
Luzia tinha grande popularidade na cidade. Era considerada uma mulher de
respeito, pois mesmo com sua idade já bastante avançada era REZADEIRA e
PARTEIRA. Rezava e colocava no lugar as partes do corpo que encontravam – se
fora do lugar (AS CHAMADAS DESMENTIDURAS). Como Parteira, “Puxava” as Barrigas
das mulheres Grávidas. Conta ainda D. Didi, que em um só dia chegou a pegar seis crianças, ou seja, PARTEJAR SEIS VEZES.
Dona Didi relembra
que o Governador do Território da época, Pauxy Nunes a ajudava muito, porém
esta continuava a lavar roupa para fora. E que Mãe Luzia chegou a “puxar” até a
Barriga da esposa do Governador Janary Nunes (já falecido). D. Iracema Carvão
Nunes.
Sua profissão de PARTEIRA, não era remunerada, porém as pessoas que podiam lhes davam alguma “ajuda”, que muito contribuía para a renda familiar. Mas dizer que ela tinha uma mesada, ou uma cesta básica todo mês, não, não possuía. Conseguia as coisas com muito esforço, com a ajuda de DEUS e da FAMÍLIA.
Sinto-me
feliz, porque ela mereceu pelo que fez. Ela não fazia nada em troca, ela não
cobrava nada de ninguém, se você chegasse a casa dela, ela tratava a todos com
carinho... Ô MÃE LUZIA estou com uma dor nisso aqui e, ela ia puxar, pegava o
azeite dela, ensinava um remédio caseiro, ia à casa das mulheres passava uma
noite, o dia, só saia quando a criança nascia ela também lavava a roupa,
cozinhava, para a mulher quando não tinha ninguém para cozinhar. Só teve uma
pessoa aqui que a ajudou, foi um senhor de nome ANTÔNIO MELO, era DELEGADO na cidade e COMPADRE de Mãe LUZIA.
Inclusive ele era até contra ela ser Parteira, ele a chamava de FEITICEIRA, que
ia mandar dar uma surra nela, ele só falava, na verdade, nunca mandou fazer
isso. Uma bela manhã bateu na sua porta, quem atendeu foi à filha. Dona Melica
que morava com ela. Ele perguntou, a
senhora que é DONA MILICA, ela disse, sou eu mesmo, eu gostaria de falar com a
Mãe Luzia - quem é o senhor? - diga a ela que quero falar com ela; é o Delegado
Antônio Melo, por favor. Ela está lavando roupa: Mãe Luzia é o Delegado Antônio
Melo. - Ela respondeu: eu não vou falar com ele, pois, ele quer me prender, eu
não matei e nem roubei (um detalhe: Mãe Luzia, gostava de lavar roupa sem à
parte de cima, ficava só de SAIA com TABACO PENDURADO NA CINTURA), tia Melica a
convenceu e ela foi; se arrumou. O assunto era delicado, a esposa do Delegado
teve uma criança, que veio a falecer, ela acabou ficando na posição que a
criança nasceu. Ele pediu, por favor, para ela ajudar no que fosse possível,
para deixar sua esposa boa. Naquele momento ele já tinha até se sujeitado a
fazer as coisas de casa como: Lavar roupa de sua esposa, dar banho nela, dar de
comer a ela, etc... Mãe Luzia começou a rezar puxar a esposa do delegado,
alguns dias depois ela já estava andando e fazendo as coisas de casa, voltou
até a trabalhar normalmente, Mãe Luzia deixou-a boa, como era antes (tirou ela
do HOSPITAL).
Desta
data em diante, o Delegado Melo passou a ser o seu melhor amigo até sua morte.
Uma noite o Delegado foi chamado para atender um pedido: Com as fortes chuvas
que caiam na região, a casa de Mãe Luzia, que era pobre, arriou uma das
paredes, a casa era de BARRO e RIPA, o Delegado não pensou duas vezes, mandou
buscar os presos, mandou reconstruir a casa e aproveitou para melhorar o
aspecto da casa. Então, ele demonstrou toda sua gratidão por MÃE LUZIA. Tornou
– se AMIGO e COMPANHEIRO, de horas de conversas e bate papo. Ele não acreditava
que ela tivesse o poder de curar as pessoas que a procuravam, mas anos foram passando
e ele passou a ajudá-la no que era possível; Até com pequenas quantias.
Registro não oficial
aponta que ela tinha nascida no ano de 1847. Quando tinha seus 100 anos de
idade, conhecia a todos que se aproximavam dela (nunca usou óculos, nunca teve
problemas de saúde, ao longo de sua vida).
No
dia 24 de setembro de 1954, veio à notícia de seu falecimento, de morte
natural, com seus 107 anos de idade, foi enterrada no Cemitério NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (CENTRO) no
túmulo de número 215 e 216, juntos
com seus parentes. Na ocasião os governantes e seus auxiliares da época a
enterraram com honras de Estado. No mesmo cemitério está enterrado o seu filho
Claudino Lino da Silva (06/04/1900 a 26/10/1956; faleceu com 56 anos) e a
esposa Francisca Santanna da Silva (04/05/1915 a 12/11/1994; faleceu com 79
anos).
MÃE
LUZIA, deixou uma geração de Parteiras.
“Enrugada, cabelos d’algodão, fim de
existência, atribulada, cuja, apoteose é um rol de roupa suja, e a aspereza das
barras de sabão. Na quietude humílima do seu rosto, sulcado de veredas
tortuosas, há um calor profundo de desgosto, e o silêncio das vidas dolorosas”
– palavras de Álvaro da Cunha / Poeta.
Hoje Mãe Luzia tem
seu nome na MATERNIDADE DA CAPITAL – “MATERNIDADE MÃE LUZIA” e também um dos
seus netos revive o nome Mãe Luzia, num Bloco de Carnaval – chamado FILHOS DA
MÃE LUZIA, foi enredo da Escola de Samba Maracatu da Favela em 1967 e 1968.
Em 1995, renasceu uma
tradição milenar que é a profissão de PARTEIRA, o pontapé inicial foi dado por
uma mulher que nasceu também das mãos de uma PARTEIRA.
A Primeira Dama e Deputada Estadual (PSB)
Janete Capiberibe, hoje Secretária Estadual de Indústria e Comércio; reuniu em
uma das salas do Palácio do Governo 62 (sessenta e duas), que no momento
reivindicavam Curso de Capacitação, Treinamento e Materiais Básicos, para que
assim pudessem realizar seus partos em domicílios. Reivindicaram ainda,
pagamento por parto realizado.
Após esta reunião a
Primeira Dama Janete Capiberibe foi até ao Excelentíssimo Sr: Governador e
Esposo – João Alberto Capiberibe e pediu que o Governo do Estado apoiasse
através de um Projeto: (RESGATE e VALORIZAÇÃO DAS PARTEIRAS TRADICIONAIS) as
reivindicações destas.
Criou-se ainda a Rede Estadual de Parteiras e atendeu-se às
reivindicações. Faltando somente se concretizar a questão do pagamento, que no
ano 2000 será realizada, através de um Programa de Renda Mínima.
O Projeto Resgate e Valorização das Parteiras Tradicionais está
inserido no Programa de Governo o (P D S A).
Hoje as PARTEIRAS
TRADICIONAIS do Estado do Amapá, são reconhecidas nacional e
internacionalmente. Ganhou prêmios em nível nacional, conferidos pela FUNDAÇÃO
FORD / FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, UNICEF e FUNDAÇÃO ROBERTO MARINHO.
É Referência nos
países onde ainda existem PARTEIRAS.
Portanto,
referenciamos uma Grande Mulher que se chamou LUZIA FRANCISCA DA SILVA, mais
conhecida em seu tempo, como MÃE LUZIA e hoje nossa Querida MÃE LUZIA.
-
Cabe aos gestores dos municípios do Estado do Amapá fazer cadastrar as
Parteiras Tradicionais no Sistema Único de Saúde para que possam receber o pagamento
pelos partos feitos e receber o material necessário para realizá-los. Cabe aos
gestores do Sistema de Saúde capacitar – se e capacitar suas equipes para uma
interação produtiva e eficiente com as Associações de Parteiras, estabelecendo
um modelo de hierarquização de ações e de delegação de funções que agregue
valor aos fluxos já implantados. O livro que temos em mãos certamente servirá
de estímulo e motivação para que isso continue a acontecer. (A MAIS ANTIGA
PRIFISSÃO DO MUNDO; trecho extraído do livro; PARINDO UM MUNDO NOVO – pág. 12
(Editora Cortez, apoiada pela UNICEF).
Macapá, 02 de Fevereiro de 2000
e-mail : nonnato-ribeiro@hotmail.com
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