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segunda-feira, 17 de março de 2014

PARTO E TRANFORMAÇÃO, A EXPERIÊNCIA DE UMA DOULA

                Hoje, trago um texto que escrevi em julho de 2010 sobre o primeiro parto que assisti em casa.

               

                                     Relendo este texto, dou-me conta que ele é perfeito para esse momento de vida em que tenho retomado algumas atividades, refletido sobre minha prática como Doula e sobre os rumos próximos que darei à minha vida profissional.


                                        
                                       Quando leio o relato, tenho certeza da maravilha que é acompanhar partos. Partos são momentos transformadores, e por mais clichê que isso possa parecer, é a mais pura verdade. Sou outra mulher depois de quatro anos de doulagem. O maior aprendizado de ser Doula, para mim, é entender que a transformação é algo que acontecerá independente da minha vontade, independente se estou pronta ou não. Ela virá. E a única coisa a fazer é mergulhar nisso e entregar-se ao processo. Acho que a principal característica que nasce em uma Doula é humildade. Humildade em reconhecer que o processo de parir, por mais que haja apoio e técnicas, depende apenas da mulher, por mais que a gente sofra com isso, tem coisas que estão para além de nós mesmos. Também cultivamos humildade especialmente dentro de hospitais, onde aprendi que quanto mais invisível, melhor.

 
                 Ali não é lugar de militância e faz parte da escolha daquela mulher, não da nossa escolha. E se acreditamos em empoderamento, há que se deixar que o casal tome decisões, você pode sugerir suavemente, mas a palavra final não é sua, definitivamente. Suavidade é outra coisa que se aprende e também qual é o nosso lugar. A gente aprende que menos é mais e que nem sempre a mulher vai querer que estejamos em volta dela. E precisamos respeitá-la. O parto é dela e merece todo o nosso apoio e apoio é estar junto, não fazer pela pessoa. Mas chega de conversa, vamos ao texto. E que ele sirva de inspiração para muitas mulheres e homens.

                                        Julho/2010. No dia dos namorados, 12 de junho de 2010,  tive a oportunidade de assistir um parto em casa. Foi uma experiência única. Estou, agora, tentando descrever o indescritível. A parteira me telefona, dizendo que a gestante está em trabalho de parto. Chego à sua casa e sinto uma paz e um profundo acolhimento. Chego em silêncio ao lugar sagrado do parto. E vejo a mãe, muito empoderada e totalmente recolhida em seu mundo interno. Parecia meditar. A cada contração, a volta para dentro de si mesma, a busca de forças em seu mundo interno e era mágico acompanhar aquele momento. Sentia ali o poder do feminino e era como se aquele poder me empoderasse também e sentia a força de ser mulher e o poder que é dar à luz. O silêncio se fazia presente e só era possível ouvir o som de uma música meditativa que tocava ao fundo.

Impressionante. Essa era a palavra que definia bem meu estado diante daquela mulher. Ela sorri para mim, me chama para dentro do quarto e me acolhe. Eu entro sem jeito, pedindo licença, sem querer atrapalhar. Vejo também seu companheiro. Um homem que dá sustentação àquele processo. Parceria. A união, a lua nova, o encontro do sol e da lua e o nascimento de uma nova família.

                                        Toda a família participava com alegria daquele momento, auxiliando de diferentes modos. Senti-me em casa. Senti como se estivesse voltando para casa, para um lugar há muito tempo conhecido. Um lugar onde não havia medo, mas sim entrega e confiança. Essas palavras ecoavam em minha mente. O trabalho de parto se estendeu pela manhã e fomos almoçar. Um almoço preparado pela mãe da mãe, uma geração de mulheres se apoiando, exercitando a confiança e desafiando um mundo que diz que parto em casa não é mais possível. A mesa estava alegre, especialmente com a presença da primogênita daquela mãe que estava para parir mais uma linda menina. A criança tem dois anos e meio, é muito amada e esperta. Entre nós duas houve um encantamento à primeira vista.


                                               Durante o almoço, o pai desce correndo as escadas e chama a parteira: “está na hora”. A parteira sai correndo e o médico também. Eu vou aos poucos. E chego ao lugar. Lá está a mãe. Fico admirada diante dela, diante de seu poder. Entro em outro estado de espírito. Aquele momento único contagia a todos capazes de sentir, de perceber o que está ocorrendo ali. O nascimento de um novo ser. Uma mulher dando à luz. E certamente, naquele momento lindos raios de sol deviam estar saindo daquele útero em direção à terra. Intensidade. Um intenso sentimento de plenitude tomava conta de mim. E agradeci por ser mulher e por poder presenciar aquela hora.


 
                                             
                                            A parturiente sente que cada vez mais é chegada a hora e vai nascendo junto com sua filha. Há uma força que vem de dentro da mãe e toma conta de todo o ambiente. Também me sinto forte. Vocalizações. Tenho vontade de vocalizar junto com ela. E sinto como se muitas e muitas gerações de mulheres estivessem ali juntas parindo e auxiliando aquela mulher e seu bebê a nascerem. Sinto-me plena. E a nova menina nasce, em casa, na água. Uma alegria toma conta do meu ser, bem-vinda Iara Maria! Rainha das águas.
 

Respeito aos limites da mulher

Estrutura da mulher...
 

                                           Em média, sete entre dez mulheres que já tiveram filho passaram pela episotomia, um corte para aumentar a abertura da vagina. Apesar de esta prática ser tão rotineira, apenas 15% dos partos normais necessitam deste método, segundo o site "Amigas do Parto" (www.amigasdoparto.com.br), feito por quatro mães que são membros da Rehuna (Rede Nacional pela Humanização do Parto e Nascimento). O processo aumentaria a chance de sangramentos, inflamações e infecções, além de causar possíveis problemas na relação sexual.


"Se tiver que aumentar a abertura da vagina, isto vai acontecer de forma natural, na passagem do bebê", afirma a chefe do conjunto de enfermeiras obstetras da Alexander Fleming, Eliane Coutinho, 34 anos. Marilanda bate na mesma tecla: "Não existe essa coisa da mulher não ter passagem, isso é a coisa mais rara do mundo. Eu trabalhei por mais de 20 anos com partos e conto nos dedos as mulheres que precisaram de episotomia ou de cesárea porque realmente não tinham passagem. A estrutura do corpo feminino foi feita para parir, e ninguém precisa ir contra a natureza".

Já o Dr. Lopes acha que não dá para comparar "uma atleta com uma executiva, cujo único exercício praticado é andar do escritório até o estacionamento. Portanto, a necessidade da episotomia depende da estrutura do corpo de cada mulher".


                                                                                                                                         Agosto, 26/2013                                                                                                                                     Amanda Martins.

ARQUIVO/POSTAGEM: PROFESSOR/PESQUISADOR: NONNATO RIBEIRO
Material/Blog: www (REDE MUNDIAL)

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